Thursday, December 28, 2006

Entre vias

Empacotamento para Christo


Base para Brancusi


Embrulho para Zimmerman
Brodway Boogie-Woogie

Azuis para Ianelli

Pano para o Bispo
A exemplo de Duchamp, que transitava pelas ruas e avenidas de Nova Iorque,
observando os movimentos urbanos, deixando-se levar pelos acasos, eu, em meus trânsitos cotidianos tento capturar fragmentos não aleatórios que me levem a uma proximidade maior entre a arte e a vida.

Entre vias

uma série de fotografias realizadas durante um percurso de viagem pelo interior do estado de Santa Catarina. Naqueles momentos em que se faz silêncio, seu único pensamento

é a arte, e as idéias fervilham.

Após ficar atrás de vários caminhões na tentativa de ultrapassagem, a estética
das carrocerias levou-me a fazer um paralelo com a história da arte pronunciando semelhanças ou encontros de alguma forma com obras de artistas notáveis.
Decidi então fotografar ali mesmo, dentro do carro, sentada ao lado
do motorista, tendo o parabrisa e a velocidade dos veículos como espaço e tempo entre a câmera e o caminhão.


Estrutura de metal pintado para Waldemar Cordeiro

Aço pintado sobre rodas

Azul Klein
Construção de metal e borracha sobre rodas
Ela que não está
Mais uma para Duchamp
óleo sobre madeira com ferro galvanizado e aluminio para
Donald Judd
Estrutura Modular de Ursula Sol Lewitt e Dan Flavin

Nu descendo uma escada
Mais uma pra Jose Bechara

Uma lona pra Bechara em Santa Catarina

Meio Mondrian


Tudo igual, Krajcberg

Porcos para Nelson Leirner



Faixas de luz fluorescente e acessórios
Dan Flavin

Suporte pra pintura para Bechara



Caixa Aurora para Andy Warhol

entre vias 2

Coluna sem fim

Branco sobre branco

Estrutura de metal pintado sobre rodas

Frank Stella em duas direções


Estrutura móvel em rosa



Lona para Bechara em Santa Catarina

Blue Klein



Lona sobre aço pintado móvel

Inspirando-me na Arte Moderna, que a meu ver, foi o período mais rico e inovador da História da arte, projeto este bloog com o objetivo de fazer um registro de trabalhos recentes, fotografias, performances, apropriações, ações e relações, transitando numa outra via meio no contra, uma paralela, linha dois, sem saber muito bem onde isto se encaixa. Como dizia um amigo artista, a quem muito admiro por sua liberdade e aproprio-me aqui de suas palavras: "nem sei se o que estou fazendo é arte ou não, mas afinal o que é arte?"

O Modernismo, torna-se um movimento estabelecido com a realização de uma arte autônoma, com questões referentes à identidade da obra, a relação entre arte e linguagem, a relação da arte com o mundo, além das questões pertinentes ao que era e não era arte. Assim, este bloog nasce em homenagem a John Cage e Jackson Pollock, artistas que dentro da história da arte podemos pontuar, pois com suas trajetórias abriram espaço para possibilidades outras, não só para sua geração mas para novas relações num horizonte aberto a arte contemporânea.

Quando Allan Kaprow em seu texto O Legado de Jacson Pollock, afirma que na pintura de Pollock a forma não tem começo, meio e fim, não tendo um lugar demarcado para a entrada de nosso olhar, podemos fazer um paralelo com os procedimentos de John Cage em suas composições onde não se distinguia onde seria a demarcação do início, ou qual seria o meio ou o fim. Tanto na pintura de Pollock quanto nas composições de Cage, o início poderia ser em qualquer lugar, assim como a ordem de seqüência poderia ser aleatória. Neste procedimento situa-se a colagem das partes que comporão ou não o todo mesmo porque no fragmento tem-se a totalidade. Nas palavras de Kaprow referindo-se a Pollock: "Todo lugar é lugar e entramos e saímos quando e por onde pudermos", em Cage: todo lugar é lugar e começamos ou terminamos quando ou por onde quisermos.

Ao começarmos um texto, ou colocar fotos em uma folha de papel, imediatamente se estabelece o início pelo alto da folha. Neste espaço virtual, isto não acontece, o início está lá para baixo. Quando se "entra" na página, ela se mostra para você na última atualização. Podemos então imaginar que este espaço é um círculo, sem início, meio e fim. A exemplo de Cage , onde em suas composições o executor/fruidor poderia começar em qualquer lugar, ou Pollock, onde todo lugar é lugar, aqui também, se pode começar onde quizer, ir para frente ou para trás, ou melhor, para cima ou para baixo, ou pela lateral.

Sei que não sou a primeira e nem serei a última artista a fazer uso de um espaço virtual para se colocar, mas me situo lá pelo meio. Inserir-se meio no meio é um ótimo lugar, pois é um lugar em trânsito, flutuante. Pode-se mudar a qualquer momento e em qualquer direção.